Ciência e Revelação

“Diz o insensato no seu coração: Não há Deus”. (Sal. 14:1). Os mais poderosos intelectos da Terra não podem compreender a Deus. Se de fato Ele Se revela aos homens, é envolvendo-Se em mistério. Seus caminhos não são possíveis de serem descobertos. Os homens sempre precisam estar pesquisando, sempre aprendendo; contudo, há um infinito além. Caso pudessem compreender plenamente os propósitos, a sabedoria, o amor e o caráter de Deus, não creriam nEle como Ser infinito, nem Lhe confiariam os interesses de sua alma. Se pudessem sondá-Lo, Ele deixaria de ser supremo.
Há homens que pensam ter feito maravilhosas descobertas na ciência. Eles citam as opiniões de eruditos como se as considerassem infalíveis, e ensinam as deduções da ciência como verdades que não podem ser contestadas. E a Palavra de Deus, que é dada como lâmpada para os pés do viajante enfastiado do mundo, é julgada por esse padrão, e achada em falta.
A pesquisa científica na qual esses homens se acham empenhados demonstrou ser um laço para eles. Anuviou-lhes a mente, e eles descambaram para o ceticismo. Têm uma sensação de poder; e, em vez de olhar para a Fonte de toda sabedoria, gloriam-se no conhecimento superficial, que possam ter obtido. Exaltaram sua sabedoria humana em oposição à sabedoria do grande e poderoso Deus, e ousaram entrar em conflito com Ele. A Palavra inspirada declara que esses homens são “insensatos”.
Deus tem permitido que uma torrente de luz incida sobre o mundo nas descobertas da ciência e da arte; quando, porém, pretensos cientistas prelecionam e escrevem sobre esses assuntos meramente do ponto de vista humano, certamente chegarão a conclusões erradas. Os maiores intelectos, se não forem guiados pela Palavra de Deus em suas pesquisas, ficarão desnorteados em suas tentativas para descobrir as relações da ciência e da revelação. O Criador e Suas obras estão além da compreensão deles; e como não conseguem explicá-los pelas leis naturais, a história bíblica é considerada duvidosa. Os que duvidam da veracidade dos relatos do Velho e Novo Testamento serão levados a um passo além, e duvidarão da existência de Deus; e então, tendo abandonado sua âncora, irão de encontro aos perigos da incredulidade.
Moisés escreveu sob a orientação do Espírito de Deus, e uma teoria geológica correta jamais afirmará descobertas que não podem ser harmonizadas com as declarações mosaicas. A ideia em que muitos tropeçam, a saber, que Deus não criou a matéria quando trouxe o mundo à existência, limita o poder do Santo de Israel.
Muitos, quando se acham incapazes de medir o Criador e Suas obras por seu imperfeito conhecimento da ciência, duvidam da existência de Deus e atribuem infinito poder à natureza. Tais pessoas perderam a simplicidade da fé e se acham muito distantes de Deus em pensamento e espírito. Deve haver inabalável fé na divindade da Santa Palavra de Deus. A Bíblia não deve ser provada pelas ideias científicas dos homens, mas a ciência é que deve ser submetida à prova desse padrão infalível. Quando a Bíblia faz declarações de fatos na natureza, a ciência pode ser comparada com a palavra escrita, e a correta compreensão de ambas sempre demonstrará que se acham em harmonia. Uma não contradiz a outra. Todas as verdades, quer na natureza ou na revelação, estão de acordo.
A pesquisa científica abrirá para a mente dos que realmente são sábios, vastos campos de pensamento e informação. Eles verão a Deus em Suas obras, e O louvarão. Ele lhes será o primeiro e o melhor, e a mente se concentrará nEle. Os céticos, que leem a Bíblia para fazer cavilações, devido à sua ignorância, alegam encontrar evidentes contradições entre a ciência e a revelação. Mas a avaliação de Deus feita pela ótica humana nunca será correta. A mente que não é iluminada pelo Espírito de Deus estará sempre em trevas no tocante ao Seu poder.
As coisas espirituais se discernem espiritualmente. Os que não têm vital união com Deus oscilam de um lado para o outro; colocam as opiniões dos homens em primeiro lugar, e a Palavra de Deus em segundo plano. Apegam-se às afirmações humanas de que o juízo contra o pecado é contrário ao bondoso caráter de Deus, e, enquanto se demoram na benignidade infinita, procuram esquecer que existe tal coisa como justiça infinita.
Quando temos noções corretas do poder, da grandeza e da majestade de Deus e da debilidade do homem, desprezamos as pretensões de sabedoria feitas pelos chamados grandes homens da Terra, os quais nada têm da nobreza do Céu em seu caráter. Não há nada pelo que os homens devam ser louvados ou exaltados. Não há razão para confiar nas opiniões dos eruditos, quando eles propendem a medir as coisas divinas por suas próprias concepções deturpadas. Os que servem a Deus são os únicos cuja opinião e exemplo é seguro seguir. O coração santificado aviva e intensifica as faculdades mentais. A viva fé em Deus comunica energia; proporciona calma e tranquilidade de espírito, e força e nobreza de caráter.
Os cientistas pensam que, com suas concepções ampliadas, podem compreender a sabedoria de Deus, aquilo que Ele tem feito ou pode fazer. Prevalece em grande parte a ideia de que Ele é limitado e restringido por Suas próprias leis. Os homens ou negam e não fazem caso de Sua existência, ou pensam explicar tudo, até as operações de Seu Espírito no coração humano, pelas leis naturais; e não reverenciam mais o Seu nome, nem há mais temor no poder divino. Embora pensem que estão obtendo tudo, eles estão correndo atrás de ilusões e perdendo preciosas oportunidades para familiarizar-se com Deus. Não creem no sobrenatural e não compreendem que o Autor das leis naturais pode agir acima dessas leis. Negam as admoestações de Deus e negligenciam os interesses de sua própria alma; todavia a existência do Altíssimo, Seu caráter e Suas leis são provas que o raciocínio humano de maior conhecimento não pode desfazer.
A pena da Inspiração descreve desta maneira o poder e a majestade de Deus: “Quem na concha de sua mão mediu as águas, e tomou a medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da Terra, e pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão? … Eis que as nações são consideradas por Ele como um pingo que cai dum balde, e como um grão de pó na balança; as ilhas são como um pó fino que se levanta. Nem todo o Líbano basta para queimar, nem os seus animais para um holocausto. Todas as nações são perante Ele como coisa que não é nada; Ele as considera menos do que nada, como um vácuo. … Ele é o que está assentado sobre a redondeza da Terra, cujos moradores são como gafanhotos; é Ele quem estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda para neles habitar”. (Isa. 40:12-22).
A natureza é poderosa, mas o Deus da natureza tem poder ilimitado. Suas obras interpretam o Seu caráter. Os que O julgam pelas obras de Suas mãos, e não pelas suposições de grandes homens, verão Sua presença em tudo. Contemplam Seu sorriso na agradável luz solar, e Seu amor e cuidado pelo homem nos ricos campos do outono. Até os adornos da Terra, segundo são vistos na relva verdejante, nas belas flores de todo o matiz e nas altaneiras e variadas árvores da floresta, atestam o terno e paternal cuidado de nosso Deus e Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos.
O poder do grande Deus será exercido em favor dos que O temem. Atentai para as palavras do profeta: “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fatiga? Não se pode esquadrinhar o Seu entendimento. Faz forte ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que ‘esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”. (Isa. 40:28-31).
Na Palavra de Deus são formuladas muitas perguntas que os mais profundos conhecedores não podem responder. É chamada a atenção para esses assuntos a fim de mostrar-nos quantas coisas há, mesmo entre os acontecimentos comuns da vida diária, que as mentes finitas, com toda a sua alardeada sabedoria, jamais poderão compreender plenamente.
Todos os sistemas de filosofia inventados pelos homens levam à confusão e vergonha quando Deus não é reconhecido e honrado. Perder a fé em Deus é terrível. A prosperidade não pode ser uma grande bênção para nações ou indivíduos quando é perdida a fé na Palavra de Deus. Nada é realmente grande, senão o que é eterno em suas propensões. A verdade, a justiça, a misericórdia, a pureza e o amor de Deus são imperecíveis. Quando os homens possuem essas qualidades, são postos em íntima relação com Deus, e são candidatos à mais alta exaltação a que pode aspirar a raça humana. Desprezarão o louvor humano e estarão acima do desapontamento, do cansaço, do conflito das línguas e das disputas pela supremacia.
Aquele cuja alma está imbuída do Espírito de Deus aprenderá a lição de firme confiança. Tomando a palavra escrita como seu conselheiro e guia, ele encontrará na ciência um auxílio para compreender a Deus, mas não se exaltará, até que, em sua cega presunção, seja insensato em suas ideias de Deus.  

(Revista Sinais dos Tempos, 13 de março de 1884; Mensagens Escolhidas - Vol 3, págs. 309 - 311)