O cristão e a eleição eclesiástica



Fim de ano é a época em que as igrejas escolhem seus líderes de departamentos/ministérios que estarão ativos durante todo o ano que está para começar. Isso me lembra, pelo menos, um episódio do povo de Deus no Antigo Testamento, relatado em 1 Samuel 7 e 8. 

A escolha de Israel
O plano de fundo: O povo de Israel, como sempre, havia sido livrado por Deus das mãos de seus inimigos e naquele momento mais recente, dos filisteus. Juízes eram constituídos por Deus para ajudarem ao povo nas questões espirituais e políticas também. Alguns deles, diferentes de Samuel, não andaram no caminho de Deus, “inclinando-se à avareza, aceitando suborno e pervertendo o direito” (1 Samuel 8:3), o que sempre colocava o povo em perigo temporário/terreno e perigo eterno, no que diz respeito à salvação/perdição.

De repente, uma coisa inusitada acontece: o povo se reúne, dirige-se à Samuel – que até então era mais do que um juiz, um profeta escolhido por Deus, que pelo seu relacionamento com Seu Criador parecia ter mais facilidade de entender os Seus desígnios – e faz uma reivindicação completamente incomum e incompreensível. De tanto verem isso em outros povos, eles queriam que quem os dirigisse fosse um homem, um rei! É o que está relatado em 1 Samuel 8:5: “E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.” 

Imagine a cena. Samuel, aquele que tinha sido usado por Deus por décadas, para livrar Israel das consequências de péssimas escolhas, e tinha sido testemunha direta dos grandes livramentos de Deus, vê o povo reivindicando um rei que não fosse o próprio Deus! Ele certamente não gostou disso, e foi pedir orientação a Deus (1 Samuel 8:6). O que Deus respondeu? “E disse o SENHOR a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1 Samuel 8:7).

Incrível! O povo rejeitou a Deus, Samuel não gostou, e o Soberano diz a Samuel: Não se preocupe. Não foi a você que eles rejeitaram, foi a Mim. Mas não tem problema. Ouça o que eles pedem e os atenda, porém antes os advirta do perigo que eles irão correr por decidirem escolher um rei. É o que mais ou menos é descrito em 1 Samuel 8:7-17.

“História interessante”, você pode estar pensando, mas o que é que isso tem a ver com as eleições eclesiásticas atuais?

A escolha do Israel atual
Essa é uma fase bem delicada na qual acredita-se e espera-se que Deus atuará por meio de uma comissão escolhida, uma comissão especial, que escolherá uma comissão de nomeação que só então nomeará seus líderes para o próximo ano, sistema provavelmente herdado pela nação norte-americana no qual basicamente o povo elege representantes que irão eleger os líderes, e que para uns dão uma falsa sensação de senso democrático.

Até então, apesar de o sistema de eleição ser bem diferente do usado em nosso país, em que o povo, os membros, elegem diretamente, aparentemente não ocorreria nenhum problema, se as coisas andassem conforme o esperado. A questão é: tratando-se de seres humanos, é bem mais fácil que o inesperado aconteça, como na história relatada anteriormente.

Sabendo disso será que a igreja deveria ter uma cautela maior nas eleições? Vendo como o povo agiu no passado e ciente do terrível tempo de “Laudicéia” (Apocalipse 3) que a igreja cristã se encontra, não deveria haver um cuidado maior para a escolha dos líderes eclesiásticos? É óbvio que sim!

Já ouvi argumentos fracos e covardes (por que não?) do tipo: “ah, mas a igreja é do Senhor. Ele vai cuidar para que nada de mal aconteça”. Tais argumentos são usados gratuitamente quando as próprias pessoas que dizem isso não se preocupam em usar a sabedoria divina para tomar decisões e atitudes que podem interferir na vida espiritual do povo de Deus. Mas será que isso tem algum fundamento?

Ao retornarmos ao relato bíblico comentado no início do post, percebemos que tal argumento nesse contexto não está fundamentado na Palavra de Deus. Quando Deus pediu que Samuel advertisse o povo da péssima escolha que eles acabaram de tomar, mostrando os males que aconteceriam, olha o que o Senhor fala: “Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia” (1 Samuel 8:18).

Percebe? Deus nos ama tanto que nos deixa livres para termos nossas próprias escolhas, inclusive no que diz respeito à eleições de líderes eclesiásticos e políticos. E esse amor é tão amplo que Ele adverte o povo, por meio de seus profetas, Suas Escrituras, mostrando o perigo que corremos se fizermos escolhas ruins; e, se persistirmos nisso, como o povo de Israel no episódio referido, Ele permite que colhamos as consequências daquilo que plantamos; e a fim do nosso aprendizado Ele ainda diz que no meio do nosso aparente arrependimento, totalmente interesseiro, Ele não nos ouvirá! E foi o que realmente aconteceu em alguns episódios do povo de Israel no passado. E agora, você entende o motivo de tantas problemas acontecendo com o povo de Deus hoje? Entende o motivo da vergonhosa situação da política brasileira e consequentemente dessa grande nação?

Então, nos dias em que vivemos é bem melhor prestarmos atenção nos indicadores de Deus e refletirmos muito bem na escolha de nossos líderes, quer os da política, quer os da igreja, pois se não, no dia em que o povo estiver passando por problemas (e particularmente acho que ainda nem saímos deles) quando clamarem ao Senhor dizendo: “Senhor esse é o Seu povo”, Ele não os ouvirá (1 Samuel 8:18) até porque Deus respeita até as escolhas estúpidas que o povo faz!

Afinal, como fazer a escolha certa? 
Não há dificuldade alguma, porém a resposta a essa pergunta daria outro post. Mas basicamente, a Bíblia está repleta de conselhos sobre que qualidades devem ser encontradas nos líderes eclesiásticos, como em 1 Timóteo 3. Siga-os. Procure-os e escolha-os. Perceba as qualidades dos grandes líderes na Bíblia. Mesmo que fiquem faltando alguns líderes a serem escolhidos, se não encontrar tais qualidades nas pessoas indicadas, não os escolha!

É importante também atentar, se você quiser abrir os olhos, que muitas coisas que acontecem no mundo político infelizmente também ocorrem dentro da igreja. Precisamos perceber para não cair nos mesmos erros do antigo Israel e como eles, sermos escravos das consequências de suas atitudes, o que pode acabar nos afastando do caminho certo. Por incrível que pareça, pode-se aprender do mundo político (aliás, segundo 1 Tessalonicenses 5:21, devemos reter o que é bom).

Nas eleições políticas facilmente pode-se encontrar a compra e venda de votos. E dentro da igreja? Tal comércio na verdade pode ocorrer implicitamente em troca de favores. Por exemplo: o "irmão A" vota/indica no "irmão B" para que o "irmão B" vote/indique no "irmão A" e assim vai. Isso acaba impedindo a atuação do Espírito Santo na escolha dos oficiais e, como uma bola de neve, facilmente pode acarretar no que aconteceu com os próprios filhos de Samuel, líderes espirituais do antigo Israel, que acabaram "aceitando suborno e pervertendo o direito” (1 Samuel 8:3). Parece terrível não? Mas a Bíblia está cheio de maus exemplos terríveis de muitos líderes de Israel que acabaram fazendo isso naquela época, e você acha que hoje pode ser diferente? O sábio Salomão já dizia "O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol." (Eclesiastes 1:3). Não será novidade ver os erros dos líderes e do povo de Deus no antigo testamento serem repetidos em nossos dias.

Outra coisa que também é comum ver são membros de famílias que permanecem no “poder”/liderança por muito tempo. Já vi gente ameaçar sair da igreja com toda sua família se perdesse o cargo, e por incrível que pareça, foram oferecidos outros cargos a fim de que isso não ocorresse. Sob a direção e o bom senso que o Espírito Santo concede tais pessoas necessitam ser bem avaliadas para saber se realmente devem continuar, se têm propriedade espiritual para tal, independente da reação que elas tenham, afinal, estamos falando do "povo de Deus". A mesma atitude deve ser tomada para com aqueles que repetem seus “mandatos” constantemente.  Nem sempre isso indica competência. Algumas vezes pode indicar, como explanado antes, uma simples aliança política. Os nomes indicados à uma re-eleição devem ser bem avaliados, aliás, em uma comunidade, muitos dons e jovens talentosos podem ser descobertos e usados melhor ainda do que aqueles que já passaram anos ocupando determinada função.

Já vi famílias "dominando" em uma igreja. As decisões delas juntamente com sua panelinha é o que acabam norteando a comunidade religiosa. Tem aqueles que até escolhem igrejas grandes ou pequenas só para poderem ter uma função! Pois é. É uma questão de caráter. E é uma questão de zelo que a própria comunidade religiosa deve ter, pois tais pessoas acabar sendo eleitas ou re-eleitas pela igreja! Não quero dizer com isso que todos os líderes eclesiásticos só se interessam em ter uma posição, e poder. Pelo contrário, assim como vemos bons exemplos de líderes que se consagraram a Deus na Bíblia, também podemos encontrar muitos líderes consagrados, que só estão interessados no crescimento do corpo de Cristo. Mas estes se tornarão líderes ou não por meio da eleição da própria igreja. Percebe? Tal poder Deus colocou em suas mãos!

Parece bem catastrófica a minha posição, não? Talvez seja mais fácil apenas ver os erros cometidos pelo antigo Israel e preferir ignorar ou desconhecer os erros do Israel atual. Mas uma coisa necessita ser levada em consideração: "E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará." (Mateus 24:12). Essa é uma realidade que é mais atual do que nunca. O amor de muitos, de dentro e de fora da igreja, se esfriará. Por que então ficar surpreso com tais fatos expostos? Isso não é escandaloso quando observamos a situação em que a igreja se encontra, de acordo com Apocalipse 3:14-22 (Leia mais sobre o assunto clicando aqui). E o conselho lá apresentado é: "quem tem ouvidos, ouça" (Apoc. 3:22).

Qual seria então o problema de ignorar a situação? Você acha que isso não é tão importante? Sabe, povo sempre colhe as consequências das decisões erradas de seus líderes. Foi assim com o povo de Israel no passado. Foram escravizados, sofreram, muitos até se perderam, inicialmente por causa de seus líderes. É assim no mundo político hoje. E também é assim na comunidade religiosa atualmente. Se você ainda tem dúvida, olha o que Levítico 4:3 revela: "Se for o sacerdote ungido que pecar, trazendo culpa sobre o povo..." O erro ou pecado dos líderes religiosos podem tornar o povo culpado! E agora, ainda acha que deve ignorar a situação?

Enfim, tomando as devidas cautelas, com certeza as consequências drásticas serão reduzidas drasticamente, e assim o “povo de Deus” poderá cumprir melhor sua missão, pois terá líderes que com seu empenho em conjunto não fugirão do foco, que é o Senhor Jesus. Preste atenção. Importe-se. Busque sabedoria do alto. Pense bem, haja racionalmente (aliás a razão é um dom de Deus) e faça a escolha certa para a honra e glória de Deus, e para o crescimento de seu corpo, sua igreja. Que Deus te ilumine em suas escolhas!