Zeitgeist, the Movie - Parte 1

Uma colega da faculdade certa vez me indicou um vídeo intitulado Zeitgeist. Quero até agradecê-la pela indicação, não pela importância do filme, mas pela necessidade de haver uma avaliação do mesmo, mesmo que de uma forma amadora (por um não-especialista como eu) mas autêntica e analítica. Abaixo segue alguns comentários meus, pesquisas e artigos de outros autores:
O “documentário” de aproximadamente 2 horas, com um plano de fundo darwinista, é dividido em três partes, dentre as quais resolvi comentar, a princípio, a primeira delas. Ao analisarmos a primeira parte fica bem mais fácil concluir do que ou como se tratam as partes posteriores, assim sendo, bom proveito na leitura a seguir.

Introdução do Zeitgeist
Já na introdução, antes de abordar as 3 partes propostas, o documentário já apresenta muitas questões passíveis a críticas. O filme apresenta um conjunto de imagens, textos e vídeos fora de seus contextos originais, que são perceptivelmente indutivos de maneira que o telespectador fica mais suscetível a ser manipulado com a mensagem passada, pelo menos aqueles que não fazem uma análise crítica. Assim, o objetivo dos produtores fica mais fácil de ser alcançado.
Algumas frases ditas pelo narrador do vídeo são chocantes, por isso não poderia deixar passar em branco, como por exemplo:
• “As instituições religiosas deste mundo são a base de toda porcaria”. Sério? Bem, se há religiões (e não religiosos) que ensinam as pessoas a serem tremendamente irresponsáveis, incentivam o uso de bebidas e outras drogas, a não amarem ao próximo e não ajudarem em suas necessidades, então parte dessa afirmação é verdadeira, pois as mortes e doenças provocadas pelo alcoolismo, pelos vícios, e a fome e pobreza mundial, e a falta de amor próprio e altruístra são as reais “porcarias” existentes, se é que assim podem ser chamadas.
• O vídeo generaliza as religiões como se fossem apenas uma, ignorando o fato de que o cristianismo bíblico (e bíblico não é o que costumeiramente as grandes religiões tradicionais ensinam), alvo das acusações da primeira parte do Zeitgeist, difere grandemente de todas as religiões. Eu poderia ser tão injusto e estúpido, quanto essa atitude de generalizar religiões, e mencionar que a história é marcada pelos fatos de que os piores e maiores morticínios foram provocados coincidentemente por ateus, como Mao Tsé-Tung, Stálin, Polt Pot, etc., e dessa forma os ateus são assassinos, mas isso não é verdade. Agindo assim, eu seria tão baixo quanto o Zeitgeist. Sabemos que não é porque um ateu faz algo que todos os ateus são assim, do mesmo jeito que não é porque um dito “religioso” comete alguma coisa, que todos os religiosos, ou religiões, são da mesma maneira. Mas parece que, convenientemente, o Zeitgeist não sabe disso!
• Quando o narrador afirma que “não sabe o que é Deus”, o faz bem, apesar de que ele poderia acrescentar que também não sabe o que é a Bíblia, já que os argumentos que se seguem no filme apenas intensificam a sua ignorância quanto à Bíblia e consequentemente quanto a Deus.
• O vídeo se utiliza de afirmações de tradições que se dizem religiosas (como o inferno do tormento e fogo eterno, e as “teologias da prosperidade” financeira) mas que na verdade não passam de tradições humanas e não bíblicas. Faz isso, como em outras situações, para despertar, quem sabe, um ódio nos telespectadores a fim de que esses não acreditem nem na Bíblia nem no que as religiões (todas, sem exceção) ensinam, e caiam facilmente nos enganos apresentados. (Continue lendo...)

Jesus, mais um mito?
A primeira parte do filme (a partir dos 09:50 minutos, aproximadamente), tem como título “A maior história alguma vez contada” e propõe que o Jesus histórico seria nada mais do que um plágio das mitologias de povos pagãos antigos. Menciona que os discípulos teriam criado um personagem parecido com a de histórias conhecidas na época, escrevendo assim quatro evangelhos, e expõe seus motivos comparando certos mitos à história de Jesus. Segundo o Zeitgeist, a estória do deus egípcio Horus influenciou a criação de outros “mitos”, como Áttis (da Frígia), Krishna (da Índia), Dionísio (da Grécia), Mithra (da Pérsia), e Jesus Cristo, já que apresentaria características semelhantes à história de Jesus, tais como:
Nascimento: nasceu de uma virgem no dia 25 de dezembro; nascimento foi indicado por uma estrela no leste; foi adorado por três reis.
Morte: foi crucificado, e ressuscitou depois de três dias.
Outras “semelhanças”: operava milagres, tais como transformar a água em vinho; era mestre viajante; era chamado “rei dos reis” e “deus dos deuses”; era considerado “filho de deus”, “Alfa e Omega”; teve 12 discípulos; batizado aos 30 anos de idade; tornou-se mestre aos 12 anos de idade.
Com tais características e poucos argumentos, só pela forma que o vídeo apresenta, qualquer pessoa que não conhece a Bíblia e que não possui senso crítico e não busca saber a veracidade das coisas, mas que é dominada pelos meios de comunicação de massa, poderia simplesmente concordar com a proposição do filme Zeitgeist de que Jesus seria um plágio. Porém, não é bem assim que deve ser. Vamos analisar, até sem muito detalhamento, as acusações e vamos verificar se tal produção merece confiabilidade.

Enganos desmistificados
Apesar das aparentes “semelhanças”, na verdade não há tanta semelhança assim, já que, referente ao nascimento de Jesus, de acordo com os evangelhos (que à propósito, os que mencionam o nascimento são o de Mateus e Lucas), a Bíblia nunca afirmou uma data específica (mês ou dia), muito menos em 25 de dezembro, como alguns costumam supor contrariando toda a lógica, visto que, de acordo com a Bíblia, Jesus foi abrigado numa estrebaria e viajou ainda quando bebê e que, na região em que ele nasceu, ele teria muitas dificuldades para sobreviver, já que era inverno rigoroso. Além do mais os pastores que receberam o recado dos anjos sobre o nascimento de Jesus, não estariam no campo apascentando o rebanho (como relata a Bíblia), estes estariam abrigados do frio. Não tem nada de “simbolismo astrológico” (sírius, três marias, blá, blá, blá...), como Zeitgeist menciona. Também a Bíblia não menciona o número de reis magos que visitaram a Jesus em sua manjedoura, que segundo o vídeo e outras tradições humanas (não-bíblicas) foram três. A Bíblia nunca plagiou nada, muito menos a data 25 de dezembro como nascimento de Jesus. Mais um grande engano do Zeitgeist!
Além do mais, a Bíblia menciona que Jesus nasceu de uma virgem que não teve relações sexuais (parece redundante mas é necessário explicar), mas foi concebido pelo Espírito Santo. Os mitos dizem que um casal de deuses tiveram relações sexuais, ou coisa parecida, para terem estes deuses que teriam alguma semelhança com a história de Jesus, sendo assim, não foi exatamente de virgens que estes mencionados anteriormente nasceram, como afirma o vídeo.
Segundo Raymond Brown que avalia os exemplos de “nascimentos virginais” não cristãos, em sua pesquisa a respeito das narrativas sobre o nascimento de Jesus, “em suma, não há nenhum exemplo claro de concepção virginal no mundo nem nas religiões pagãs que plausivelmente poderia ter dado aos judeus cristãos do primeiro século a ideia da concepção virginal de Jesus”. (Raymond E. Brown, The Birth of the Messiah, Anchor Bible, 1999, p.523.). Mais um engano do Zeitgeist.
Quando Zeitgeist tenta comparar Mithra, da Índia, com a história de Jesus, comete mais um erro ao mencionar que “curiosamente” o dia de adoração desse deus era o domingo. Na Bíblia não há nenhuma menção de que o domingo seja o dia de adoração, pelo contrário, o sábado é mencionado diversas vezes como o dia do Senhor. O próprio Jesus disse que ele era Senhor do sábado! Mais um terrível engano, hein Zeitgeist!?
Um outro grande absurdo é quando o “documentário” tenta explicar a passagem de Lucas 22:10 (além de toda a baboseira astrológica que ele menciona) como sendo indicativo da era de aquário, porque o homem estava segurando um cântaro com água. Sinceramente dá vontade de rir. Pra falar a verdade, eu ri mesmo. O homem foi a referência que Jesus deu para os discípulos encontrarem uma casa para celebrarem a Páscoa. Esse é o contexto. Não tem nada a ver com eras muito menos com astrologia. A não ser que tenha uma constelação chamada páscoa também, não tem lógica nenhuma mencionar esse texto como uma referência astrológica! Poupo os meus comentários ao que o filme diz sobre Mateus 28:20. Pura piada (de imenso mal gosto, é claro)!

Jesus, plágio ou plagiado?
A questão que pesa mais ainda sobre a confiabilidade do vídeo Zeitgeist é a de que data são os registros ou materiais a respeito das mitologias mencionadas no vídeo e comparadas à história de Jesus. Apesar de mencionar que as religiões míticas, principalmente do deus Hórus, do Egito, são milenares, apenas depois de 200 d.C é que alguns escritores se utilizaram de alguns materiais antigos para formular reconstruções das religiões pagãs de séculos anteriores. Ou seja, foi muito fácil se utilizar dos relatos bíblicos para reformular as religiões misteriosas existentes antes de Cristo, e agora afirmar que quem plagiou foi a Bíblia, não?! Prática totalmente antiacadêmica e anticientífica! Claramente os escritos bíblicos surgiram antes dessas reformulações das religiões antepassadas, impossibilitando os apóstolos de plagiarem algo que só surgiria num futuro em que nenhum deles estariam presentes.
Um caso que vale como exemplo para desmistificar estas acusações do Zeitgeist é o do deus frígio, Áttis, mencionado. Segundo a teóloga Marina Garner Assis, no artigo “Jesus um plágio?”, publicado na Revista Adventista de março de 2011, existem três mitos diferentes referente a Áttis. Ela menciona:
“De acordo com um dos mitos, Cibele amava um pastor de ovelhas chamado Átis. Por Átis ter sido infiel, ela o levou á loucura. Tomado de loucura, Átis se castrou e morreu. Em decorrência disso, o luto de Cibele foi tão profundo que introduziu a morte no mundo natural. Mas, então, Cibele restaurou Átis à vida, um evento que também trouxe o mundo da natureza à vida. [...] No mito, não há nada que se pareça a uma ressurreição corpórea... Nem nesse nem nas outras três histórias, encontramos morte e ressurreição ou qualquer coisa semelhante ao que vemos nos evangelhos. Foi somente em celebrações posteriores pelos romanos (depois de 300 d.C.) que algo remotamente semelhante foi inserido à mitologia.”
A teóloga acrescenta: “Não há nenhuma evidência de religiões de mistério inseridas na Palestina das três primeiras décadas do primeiro século. Não teria havido tempo suficiente para que os discípulos fossem influenciados pelos mistérios. Quando a influência dos mistérios atingiu a Palestina, principalmente por meio do gnosticismo, a igreja primitiva não aceitou, mas renunciou vigorosamente aos mitos pagãos.”
De quem foi o plágio então? Provavelmente de escritores que convenientemente refizeram as histórias míticas das religiões passadas bem depois de o cristianismo ser difundido. De repente, o sistema pagão percebendo o avanço do cristianismo, pode ter adotado alguns elementos do cristianismo. “Por exemplo, o rito pagão do banho em sangue de touro tinha inicialmente sua eficácia espiritual de 20 anos. Mas assim que a ‘competição’ com o cristianismo começou, o culto a Cibele aumentou a eficácia de seu rito ‘de 20 anos à eternidade’.” (Ronald Nash, Christianity & the Hellenistic World, p. 192-199; citando Bruce Metzger sobre o culto de Cibele.)
Um outro exemplo: “Segundo especialistas em hinduísmo, Krishna foi morto por um caçador que acidentalmente atirou em seu calcanhar. Ele morreu e ascendeu. Não houve nenhuma ressurreição e ninguém o viu ascender. Mesmo que o mito da ascensão de Krishna traga algum desconforto, ele pode ser rapidamente resolvido com as declarações de Benjamin Walker, em seu livro The Hindu World: na Encyclopedia Survey of Hinduism: ‘Não pode haver nenhuma dúvida de que os hidus pegaram emprestados os contos [do cristianismo], mas não o nome.’”.
Muitos poderiam ser os argumentos que comprovariam a falsidade do Zeitgeist bem como de outros que surgiram ou surgirão tentando fazer outros descrerem no conteúdo bíblico, e como Marina G. Assis, me utilizo das palavras de Ronald Nash para concluir: “Esforços liberais de desacreditar a revelação singular cristã por meio dos argumentos da influência das religiões pagãs são destruídos rapidamente a partir da verificação completa das informações disponíveis. É claro que os argumentos liberais exibem suporte acadêmico INCRIVELMENTE RUIM [ênfase minha] e, com certeza, essa conclusão é muito generosa”. (Ronald Nash, “Was the New Testament influenced by pagan religions?”, Christian Researsh Journal (Inverno de 1994) p.8.) Em pensar que no final da primeira parte do filme é dito “queremos ser academicamente corretos”. Que paradoxo! Se utilizam de argumentos não científicos, enganos misturados com verdades, estórias reescritas depois da escrita da Bíblia, e ainda dizem que querem ser academicamente corretos? (Fala sério... Não há nada acadêmico nisso!)

Concluindo
Mais uma vez, diferente dos mitos, séculos antes do nascimento de Jesus, profecias já indicavam este acontecimento e foram cumpridas. Provavelmente quem acredita numa falácia como o vídeo explanado em questão, deve duvidar dos relatos bíblicos, mas ainda assim vale a pena mostrar um pouco da meticulosidade através da qual a Bíblia foi escrita. Pessoas diferentes, em lugares e tempos diferentes (quilômetros e séculos de distância, sem meios de comunicação modernos) porém com a mesma mensagem! É muito improvável ser essa uma obra humana. Por exemplo:
Miquéias 5:2 menciona que o Messias nasceria em Belém;
Isaías 7:14 menciona que ele nasceria de uma virgem e Se chamaria Emanuel;
Oseias 11:1 diz que ele seria levado ao Egito;
Isaias 40:3 e Malaquias 3:1 mencionam que João Batista seria seu precursor;
Salmo 78:2 menciona que Ele falaria por parábolas;
Salmo 41:9 diz que Jesus seria traído por um amigo próximo;
Zacarias 11:12 diz que Jesus seria vendido por 30 moedas de prata;
Salmo 22:16 menciona que o Messias teria seus pés e mãos perfurados na crucifixão (evento incomum na época);
E concluiria esses exemplos com a profecia que data com exatidão o nascimento, batismo e a morte de Cristo, retratada em Daniel 9:24-27.
Com tantos detalhes podemos perceber que os relatos bíblicos não são humanos, muito menos plágios, como erroneamente ensina o Zeitgeist, mas foram inspirados por um Ser comum, o próprio Deus, inclusive o relato sobre a vida, morte, ressurreição de Cristo e de seu breve retorno, que será a comprovação final da veracidade bíblica (espero que você não espere pra crer nEle e conhecê-Lo apenas nesse evento).
Vale ainda apresentar outra citação: “Similaridade não prova dependência. Movimentos sociais e religiosos frequentemente compartilham formas de expressão ou práticas similares. Não é de surpreender que encontremos paralelos em qualquer religião a respeito de vida após a morte, identificação com uma deidade, ritos de iniciação ou um código de conduta. Se uma religião deseja atrair conversos, precisa apelar para as necessidades e desejos universais dos seres humanos. Mas isso não indica dependência. Em qual cultura, pó exemplo, a imagem de se lavar em água não significa purificação? Portanto, o que importa não é a semelhança das palavras e práticas, mas os significados ligados a elas. A fim de provar um caso de dependência é necessário demonstrar semelhança na essência e não só na forma.” (Marina Garner Assis, Jesus um plágio?, Revista Adventista, Mar.2011, p. 11-12)

Com tantas evidências e análises que já devem ser suficientes (sem mencionar muitas outras existentes), em que você prefere crer? Minha sugestão: “Creia no Senhor Jesus [portador de toda originalidade possível] e serás salvo tu e a tua casa” (Atos 16:31)!