Reforma da Reforma



Reforma que não é mantida, deteriora-se. Algumas reformas feitas no passado, para  a nova geração tornaram-se entulhos.  Se a reforma não trouxer consigo elementos que levem  à mudança de vida do ser humano, fazendo-o sentir a necessidade de  buscar  na fonte a renovação diária,  jamais terá força para manter-se inabalável.  E o ciclo vai se repetir: reforma precisando de reforma.

Um dos maiores motivos  da  Reforma protestante  foi a venda de indulgências pela igreja Católica Romana em que parentes de mortos eram amedrontados pela mensagem do purgatório. Era o pagamento que faziam, com sacrifício físico e recurso financeiro que “livraria” seus entes do ‘fogo do inferno’. Outro motivo,  foi o fato de a Igreja pregar que fora dela (Igreja romana) não havia salvação. A Reforma Protestante excomungou Lutero da Igreja Católica e foi considerado um fora da lei pelas autoridades por perturbação à ordem pública. Ele poderia ter ficado calado, se levasse em consideração apenas o apoio que teve de sua própria igreja que custeou seu curso de teologia. Era mantido exatamente pelos recursos provenientes das vendas das indulgências, das quais tornou-se grande crítico. Sendo mantido pela igreja, falava contra os erros que seus líderes defendiam. Ele poderia ter ficado calado, mas preferiu a verdade ao conforto e suas credenciais.Diferentemente do julgamento pela inquisição do Tribunal do Santo Ofício, hoje já não existe o julgamento, mas sugestões apresentadas por apelos psicológicos e 'lavagem' cerebral, fazendo com que o indivíduo fique preso segundo o entendimento que aprendeu, de que sempre deve oferecer mais, caminhar mais do que caminha, para demonstrar amor à obra de Deus; por mais que se faça ainda é insuficiente. 

A Reforma em nossos dias

Se hoje há mais esclarecimento sobre a salvação pela graça, e de que a salvação é estendida a todos os povos, raça e língua e nação, ainda somos amedrontados com a sombra do que assustava os que entendiam precisar sacrificar-se ou a pertencer a determinada igreja para receber o perdão de Deus.  Hoje, a  venda de indulgências ganhou outras faces e quase todas as religiões se mascaram com essa prática. Hoje o discurso é mais brando, não tão aterrorizante como antes, pois a porta que Lutero abriu levou luz aos olhos de muitos, mas fiéis  são sugestionados por seus grupos religiosos da mesma maneira como fazia a Igreja Católica naquele tempo.

Fiéis são amedrontados por  pastores que ameaçam com a ideia do ‘devorador’ que consome tudo que pertence de quem não devolve os dízimos, nem oferece suas ofertas ao Senhor, contanto que seja em sua igreja. Isso, certamente, cria um sistema de escambo com Deus, quando as religiões fazem apelos psicológicos a ponto de despertar em seus fiéis, sentimento de medo e culpa, alguns até dispondo-se de algo que lhes fará falta para cumprir a obrigação que sugerem ser cumprida.  A mentalidade do dizimista e do doador torna-se distorcida exatamente porque é construída por essa base que parece servir apenas para sustentar as estruturas das instituições e enriquecer seus líderes que vivem confortavelmente, em contraste com as dificuldades que vivem os fiéis que lotam seus templos. O dizimista aprende com seus pastores a sentirem-se no direito de cobrar de Deus as promessas que eles os sugerem, de acordo com seus interesses de arrecadação. Outros são sugestionados a serem fiéis dizimistas e ofertantes por meio de testemunhos apresentados em programas de televisão daqueles  que dizem ter sido  abençoados  porque tornaram-se fiéis na devolução do que pertence a Deus, que pagou todos os dízimos atrasados, etc.  Ou seja.  Um ensinamento Bíblico que deve ser praticado, sendo canalizado de maneira errônea, para atender aos interesses de líderes religiosos fraudulentos, não exatamente à causa de Deus, e com isso, roubam dos fiéis o direito de entenderem claramente a função daquilo que oferecem, pois a informação os levaria à consciência e entenderiam o que seria uma exploração desmedida em desacordo com a palavra de Deus. O despertar da consciência é sempre uma ameaça a algum sistema manipulador e opressor.

Em outros casos, igrejas abrem as portas dizendo que aquela é a casa de Deus, que ali estão os fiéis seguidores de Cristo, que tem a verdade, e que Jesus está ali, não em outros lugares, num discurso que pretende conquistar fiéis que abraçam a igreja como se sem ela não pudessem alcançar a salvação. Para as igrejas se manterem cheias, fazendo vista grossa ao pecado,  o bordão utilizado é: “olhe para Jesus”, contrariando o ensinamento:   “Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”.  (Gálatas 6:1-8) – E quando algo bom pratica, por obras de sua própria justiça, o discurso é: “Olhe para a Igreja”.

A verdade, é que as instituições religiosas precisam rever seus conceitos diante do projeto de poder e influência no mundo. De fato, é cada vez mais difícil lidar com uma sociedade considerada rebelde, exatamente  porque  seus olhos  tem sido abertos pelas informações de que tem acesso, enquanto que a mensagem de Jesus é inquestionável. Toda mensagem que foge ao princípio do que Cristo ensinou, torna-se insustentável, pois passa para o campo especulativo, das pesquisas acadêmicas, das evidências científicas, no qual  todos tem opiniões para sugerir e teorias até razoáveis para apresentar.

Os argumentos de Martin Luther foram incontestáveis, pois quando ele apoiava sua argumentação na Bíblia, a Igreja rebatia pelo entendimento de que o que fazia era preciso e que não precisava ser necessariamente a verdade. A mensagem do purgatório e a expiação por sacrifício humano,  era  um meio que a Igreja utilizava, segundo seu entendimento, para dar esperança às pessoas; assim como é hoje a doutrina da reencarnação e de que a morte é uma passagem. São mensagens que confortam e alimenta esperança nas pessoas, mas não é a verdade. O princípio é o mesmo utilizado pelas igrejas que fazem as pessoas terem esperança de conseguir algo, doando bens materiais. Mas não é este o princípio da verdade.

Se Martin Luther não tivesse tido a coragem de lutar contra o sistema religioso em sua época,  certamente outros seriam despertados diante de tanta exploração em nome da fé, como existe hoje os combatentes anônimos que naturalmente são excomungados de suas congregações. A mesma cena se repete. A instituição religiosa torna-se representante de Deus na terra, não a igreja sendo a imagem de Cristo em seus seguidores. A instituição torna-se infalível pelo  seu conhecimento e riqueza de conteúdo, sem despertar em seus membros a certeza de que só com a prática do evangelho de Jesus na vida, é possível atender ao apelo de ser perfeito como Ele é. Protestantes não protestam mais, estão calados por vários motivos.

É assim que acontece com Martins Luteros modernos, que querem reparar brechas e levar os fiéis a beberem da fonte que satisfaz, não em fontes rotas. Mas sua voz seria ameaça ao projeto de poder das religiões. É preciso despertar a mensagem  que leve o cristão a exaltar o Criador, não à criatura, e que o testemunho pessoal seja mais importante que as ferramentas,  e a pensar que a igreja de Deus é representada por todo aquele que lavou suas vestiduras no sangue do cordeiro, que guardem seus mandamentos, e, sobretudo, sejam testemunhas de Jesus por suas práticas. É a libertação do jugo do homem, pela submissão ao jugo de Cristo, permitindo-se a sua guia. Então teremos descoberto a religião verdadeira, que não se resume à defesa cega de uma denominação, como uma paixão capaz de cegar o entendimento, nem a líderes dessas agremiações, mas ao verdadeiro serviço do mestre.