O missionário que desvendou a África


O Reino Unido comemorou na última terça-feira o bicentenário de nascimento do explorador escocês David Livingstone (1813-1873), que foi à África como missionário médico anglicano e acabou chegando às fontes do Nilo. Além disso, foi um dos símbolos da luta contra a escravidão da época vitoriana.

Livingstone dedicou décadas a explorações que obrigaram os cartógrafos da época a revisar todos os mapas da África, prestou atendimento médico aos nativos e defendeu seus direitos perante os colonos europeus. Fascinado pela África, negou-se a voltar ao Reino Unido quando a malária e a disenteria o consumiam a ponto de completar 60 anos. Na época, o escocês era uma celebridade no Ocidente pelas narrações de suas viagens, mas tinha passado tantos anos sem dar sinais de vida que nos salões de Londres e Nova York era dado como morto.

Devido à falta de notícias do aventureiro, o jornal New York Herald, ávido por histórias exclusivas, decidiu bancar uma expedição para encontrá-lo, tarefa que ficou com o jornalista e explorador Henry Stanley. O intrépido galês partiu em 1871 rumo à África e, após uma longa procura, encontrou Livingstone na aldeia de Ujiji (Tanzânia).

Stanley tinha tido a sorte de se deparar com o escocês na imensa África, mas o fez quando as doenças tinham minguado já parte de suas forças, dois anos antes de sua morte. Naquele momento fazia 30 anos que Livingstone, médico de Glasgow, segundo filho de um humilde comerciante de chá conhecido por sua fervorosa religiosidade, tinha desembarcado no continente africano como missionário, disposto a evangelizar a população local.

Glória

Anos mais tarde, ele deixaria de estar ligado à Sociedade Missionária de Londres, que o tinha enviado à África, e estreitaria sua relação com a Royal Geographical Society, que o contratou em 1865 para buscar as fontes do Nilo e acabou lhe concedendo sua Medalha de Ouro.

Quase uma década antes, em 1856, Livingstone tinha vivido seu momento de maior glória, quando foi recebido no Reino Unido como um herói após 16 anos de viagem. Ele teve uma audiência com a rainha Vitória – a quem tinha homenageado ao batizar as cataratas recém descobertas na fronteira dos atuais Zâmbia e Zimbábue –, publicou suas aventuras, que lhe deram uma boa quantia em dinheiro, e deu palestras em universidades britânicas antes de voltar, dois anos depois, para a África, onde permaneceu até morrer.


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O escocês David Livingstone não se preocupou apenas em desenhar os novos mapas do mundo: desenvolveu um reconhecido trabalho como médico (ele foi o primeiro ocidental a verificar que a presença de mosquitos antecipava a aparição da malária) e tentou evitar os abusos dos colonos europeus na África no século 19.

Sua defesa dos direitos dos africanos lhe valeu o respeito dos nativos por onde passou. Segundo a lenda, os moradores do povoado onde morreu, em Zâmbia, enterraram lá seu coração antes que seu corpo fosse repatriado a Londres.

O corpo de Livingstone está no cemitério da Abadia de Westminster, junto de outros ilustres britânicos como Charles Darwin e Isaac Newton.