Ciência e Religião. É possível?

Por Wellington Silva*

Nós podemos comparar a relação entre ciência e religião como uma relação conjugal. Ora há momentos de harmonia, ora há momentos de conflito e às vezes até indiferença entre elas. Na década de 1920, o filósofo Alfred North Whitehead disse que o futuro das próximas gerações dependerá da relação que elas estabelecerem com estas duas áreas do conhecimento. A verdade é que diariamente lidamos com situações que estão na interface entre a religião e a ciência. Por exemplo, quando acompanhamos nos jornais problemas éticos suscitados pela clonagem para fins reprodutivos ou terapêuticos, a legalização do aborto e da eutanásia, estamos lidando muitas vezes com cosmovisões diferentes que lutam para conquistar a nossa mente. Outra área em que observamos nitidamente esta tensão é no ensino das origens protagonizado por duas correntes filosóficas distintas, o evolucionismo materialista e o criacionismo bíblico. Afinal de contas pode existir harmonia entre a ciência e a religião cristã? Existem evidências que nos permitam crer num Deus pessoal?

Primeiramente precisamos entender que os cientistas não conseguem analisar os fatos de forma totalmente imparcial. Segundo Karl Pooper, não existem fatos sem teoria e os maiores problemas não ocorrem quando lidamos com os fenômenos reproduzíveis da natureza, mas sim com fatos históricos que ocorreram no passado. A estrutura conceitual de cada pessoa irá prover respostas para os problemas levantados. Além disso, a mídia dificilmente apresenta de forma imparcial e equilibrada os argumentos de cada lado.

Nos útimos séculos, houve um abismo que foi construído entre a ciência e a religião. Ele foi colocado inicialmente para proteger o método científico da influência do pensamento grego defendido pela Igreja Católica, mas depois interpretações equivocadas da história da ciência foram usadas para legitimar o empreendimento científico em detrimento da fé cristã que passou a ser considerada como anti-ciência. Entretanto, este cenário está mudando. Atualmente, muitos defendem a integração entre a fé e a ciência dizendo que o pensamento mecanicista juntamente com o método cartesiano e reducionista fragmentou o conhecimento colocando-o em áreas isoladas não correspondendo mais aos anseios do homem pós-moderno. Por isso, o cristianismo de forma geral e, em particular, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que detém um forte sistema educacional, tem se preocupado em incluir no seu curriculo uma educação holísitca resgatando os valores bíblicos e cristãos na formação dos seus alunos.

Em anos recentes, cientistas realizaram inúmeras descobertas que revelam um nível tão elevado de precisão e complexidade que está ficando difícil sugerir que tudo que existe surgiu por acaso. Até o final da década de 1910, aqueles que não consideravam o Gênesis literalmente não tinham motivos para acreditar que o universo teve um início. O século XX viu uma explosão em nossa exploração do universo conforme novas técnicas e instrumentos tornaram-se disponíveis. O jornalista científico Fred Heeren, em seu livro “Mostre-me Deus” argumenta que a ampliação do conhecimento irá somente aumentar o senso de maravilha e trazer mais segurança para a fé das pessoas. Como ele mesmo afirma: “Eu nunca vi as leis da Física falharem e já vi muitas charlatanices para duvidar de quem afirma já ter visto(...) acho difícil acreditar que qualquer milagre tenha acontecido no passado. Ainda assim, aqui estamos nós, a prova viva de que, de alguma forma, em algum momento do passado, tudo começou a partir do nada – e simplesmente não há uma maneira natural para uma coisa dessas acontecer. E é notório que físicos estão dizendo que o universo foi “ajustado” precisamente para que a vida fosse possível. Isso me coloca num pequeno dilema. Aqui estou eu, desacreditando em milagres enquanto que o universo inteiro é aparentemente um indescritível grandioso milagre.”

Embora a fé seja um componente importante na cosmovisão cristã, encontramos inúmeras evidências de planejamento que apelam à nossa razão. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebido por meio das coisas que foram criadas (Rom. 1:20).

*Wellington Silva - Doutor em Genética Humana pela UnB e professor de Biologia e Genética das Faculdades Adventistas da Bahia