Deus é amigo


Hoje comemora-se o Dia do amigo, e nada mais propício do que essa análise conclusiva, do jornalista Michelson Borges, sobre o maior Amigo de todos:

Deus está mais acessível do que pensamos
“Quem és Tu, Senhor?” (Atos 9:5). Essa foi a pergunta feita pelo apóstolo Paulo, caído ao chão, em meio ao pó do caminho que levava à cidade de Damasco, enquanto ouvia uma poderosa voz vinda do Céu. Mal conseguia manter os olhos abertos diante da intensa luz à sua frente. A resposta veio de pronto: “Eu Sou Jesus, a quem tu persegues.”

Quem já não se perguntou (quem sabe quando criança): “Quem é o pai de Deus?”, “Onde Deus mora?”, “Como pode alguém não ter começo nem fim?” Ao crescer, muitas pessoas acabam deixando de lado essas perguntas, talvez por serem de tal modo absorvidas pelo corre-corre da vida que já não encontram tempo para “viagens” teológico-filosóficas. Mas em algum cantinho da alma, a pergunta básica – Quem é Deus? – permanece ecoando.

Ao longo da História, muitas pessoas tiveram a coragem de expressar essa indagação. Algumas, como Paulo, precisaram “cair do cavalo” do preconceito, das teorias, das falsas interpretações e das meias-verdades, para encontrar, de fato, a resposta à pergunta crucial: Quem é Deus? Ao abrir o coração e a mente, essas pessoas perceberam que havia alturas, larguras e profundidades com as quais jamais haviam sonhado, a respeito do caráter do Criador.

Talvez mais importante que se perguntar quem é Deus, seja descobrir onde encontrar tal resposta. Para muitos, Deus não passa de uma energia impessoal e que permeia todas as coisas. E é bem conveniente crer num deus assim, afinal, um deus-energia não exige relacionamento ou comprometimento. “Ele” está aí para quando “dele” precisarmos; uma espécie de deus-bombeiro. E não importa o tipo de vida que levamos, nada pode contrariar ou entristecer uma energia, não é mesmo?

Para outras pessoas, a criação é o próprio Deus. Deus está em tudo: nas rochas, nas árvores, nos animais e nas pessoas. É a doutrina panteísta: “Nós somos deuses.” Novamente a conveniência fala mais alto, afinal, se eu sou um deus, não devo satisfação a ninguém a respeito de meus atos. Sou independente e a resposta para todos os meus problemas está em mim mesmo, em minhas “infinitas potencialidades”.

Para outros, ainda, Deus nem mesmo existe ou está tão distante que quase não representa nada em sua vida. Talvez seja um velhinho de cabelos brancos, sentado em um grande trono de ouro, observando nossa triste rotina em um plano de existência inferior e enfadonho ou inspecionando nossa vida em busca do primeiro deslize.

E para você, quem é Deus? Como O imagina? O que sente a respeito dEle? Será possível realmente compreendê-Lo? Volto a repetir: a resposta segura para estas perguntas depende da fonte de informações que adotamos. Portanto, jamais teríamos condições de saber realmente quem é Deus se Ele próprio não Se revelasse a nós seres humanos.

Na verdade, para responder àquela pergunta básica – Quem ou o quê é Deus? – teríamos que ser capazes de compreender Deus e de oferecer uma explicação satisfatória do Seu Ser Divino, e isto é completamente impossível. O finito não pode compreender o Infinito. A pergunta de Zofar – “Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11:7) – tem a força de uma vigorosa negativa. Fora da revelação de Deus em Seus atributos, não temos absolutamente nenhum conhecimento do Seu Ser Divino, embora mesmo assim o nosso conhecimento esteja sujeito às limitações humanas.

Em 1997 foi publicado no Brasil um livro do jornalista Jack Miles – Deus, Uma Biografia (Companhia das Letras). Nele, o autor analisa Deus enquanto personagem literário, evitando as questões de fé. É exatamente aí, ao meu ver, que Deus, Uma Biografia encontra suas limitações. À página 25 de seu livro, Miles diz: “Os leitores céticos poderão perguntar, evidentemente, se não haverá, mesmo numa época secular, alguma distorção em tentar compreender Deus nos termos que utilizamos para compreender seres humanos. Robert Alter escreveu a respeito: ‘Pouco se ganha, acredito, ao conceber o Deus bíblico ... como um personagem humano – petulante, teimoso, arbitrário, impulsivo ou o que seja. O que os autores bíblicos repetem todo o tempo é que não se pode entender Deus em termos humanos.’”

“Mas Alter exagera.” – continua Miles – “Uma das primeiras afirmações que todo escritor bíblico faz sobre Deus é que a humanidade é a imagem de Deus – um inconfundível convite a atribuir algum sentido a Deus em termos humanos.”

De fato, o homem é a “imagem e semelhança” de Deus. No entanto, essa imagem e semelhança acabou sendo desfigurada pelo pecado. Portanto, é impossível estudar a Bíblia e a Deus sem se levar em conta o pano de fundo do grande conflito cósmico entre o bem e o mal e a conseqüente queda do homem. Em todas as Escrituras vemos um Deus de amor em busca de Seus filhos errantes. Uma busca que não mede esforços. Por vezes, Deus Se vê “obrigado” a utilizar a própria linguagem humana (até a da violência) a fim de Se fazer entender, mesmo correndo o risco de ser mal-entendido (como efetivamente o foi e continua sendo, muitas vezes).

Utilizando-Se de homens e mulheres santos, Deus concedeu à humanidade vislumbres de Sua pessoa e caráter. O suficiente, pelo menos, para que nós pudéssemos entender e compreender Seu plano para o Universo e para a nossa vida. E esse plano está escrito num livro singular, divino-humano, chamado Bíblia.

A SUPREMA REVELAÇÃO ESCRITA
Historicamente é impossível negar a autenticidade da Bíblia. Agora, em se tratando de inspiração divina, embora haja evidências, isso é algo que devemos aceitar pela fé. Pessoalmente, prefiro aceitar a revelação de Deus através de um livro que tem resistido aos séculos e possui poder transformador de vidas, a crer nas opiniões infundadas de autores meramente humanos, interessados em criar um deus à sua imagem e semelhança.
É notável, também, perceber que a Bíblia tem sido utilizada por pessoas de todas as épocas e de todas as culturas, e suas profecias são mais atuais que os noticiários de amanhã! Por mais que se esforcem, portanto, os autores de livros publicados a respeito de Deus, que não tomam as Escrituras Sagradas como referencial dentro dos padrões hermenêuticos, não conseguem nem mesmo chegar perto do Transcendente e Todo-poderoso Deus ali revelado.

VISLUMBRES DO INFINITO
Vários personagens bíblicos tiveram a chance de vislumbrar a Deus. Alguns até tentaram descrevê-Lo, embora fique claro, pela leitura dos textos, que a linguagem humana freqüentemente encontra limites nesses casos. Consideremos os exemplos de Isaías (6:17), Ezequiel (1:26-28; 2:1), Daniel (7:9 e 10) e João (Apoc. 1:12-17). Além da linguagem profundamente simbólica, esses quatro textos têm outros elementos em comum:

  •  Deus é, sem sombra de dúvida, uma Pessoa.
  •  Seu aspecto é glorioso, resplandecente.
  •  Diante de Sua majestosa e pura presença, o homem percebe toda a sua pecaminosidade e impureza.
  •  Em Seu amor e carinho, Deus perdoa e restabelece as forças dos profetas (Isaías, Ezequiel, Daniel e João).

No Antigo Testamento as manifestações de Deus geralmente foram acompanhadas por grandes demonstrações de poder. O Dilúvio de Gênesis, a destruição de Sodoma e Gomorra, os trovões e tremores de terra que acompanharam a entrega das leis no Sinai, etc. Existem exceções que chamam a atenção, como I Reis 19:11-13: “Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranqüilo e suave. Ouvindo-o Elias, envolveu o rosto no seu manto...”

Essa maneira de Deus Se apresentar acaba deixando algumas pessoas confusas ao lerem a respeito de Cristo, a “expressão exata do Seu Ser” (Hebreus 1:3), no Novo Testamento. Como harmonizar o meigo e manso Jesus com o Deus que destrói totalmente cidades inteiras? Como harmonizar o Deus do Sinai com o Filho de Deus do Monte das Oliveiras?

Muitos desistem da busca de Deus ao se depararem com perguntas como essas. Mas aqui está apenas o princípio da busca. Ao lermos a Bíblia com os “óculos do amor”, percebemos que em todas as atitudes de Deus (até nas mais drásticas) o amor foi a mola-mestra. Quando mantemos uma relação de comunhão e amizade com Deus, passamos a ver as coisas de outra maneira.

Poucos seres humanos estabeleceram relação tão íntima com o Criador como Moisés. Moisés falava com Deus (ver Êxodo 19). Mesmo assim queria mais: “Rogo-Te que me mostres a Tua glória” (Êxodo 33:18) – pediu certa vez. E Deus respondeu: “Farei passar toda a Minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do Senhor... Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a Minha face e viverá. ... Eis aqui um lugar junto a Mim; e tu estarás sobre a penha. Quando passar a Minha glória, Eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei, até que Eu tenha passado. Depois, em tirando Eu a mão, tu Me verás pelas costas; mas a Minha face não se verá.”

Que grande privilégio! Além de falar com Deus, Moisés pôde contemplá-Lo, em parte. Que esse possa ser também o nosso desejo: ter cada dia mais vontade de conhecer a Deus e fazer dEle o nosso melhor Amigo. Nas palavras de Oséias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oséias 6:3); mas lembre-se de que “é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se torna galardoador dos que O buscam” (Hebreus 11:6). Deus Se revela aos que O buscam de coração. Pode ter certeza disso, afinal “Deus é amor” (I João 4:8).

(Michelson Borges)