Resultado de investigação teria levado o papa à renúncia


Corrupção, disputa política e uma rede de prostituição homossexual envolvendo seminaristas e imigrantes irregulares. As informações fazem parte de um dossiê de 300 páginas produzido por três cardeais a pedido do papa Bento XVI sobre a realidade da Igreja e que o teria convencido a tomar a decisão que há meses ele vinha estudando: sua renúncia.

As informações foram publicadas ontem pelo jornal italiano La Repubblica. Há uma semana, a revista Panorama também havia citado o mesmo informe, indicando que ele foi entregue ao papa no dia 17 de dezembro.

Perguntado sobre a veracidade do dossiê, Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse: "Não confirmamos nem negamos as informações". Segundo ele, "cada um precisa assumir suas responsabilidades".

"Foi naquele dia, com os papéis sobre sua mesa, que Bento XVI tomou a decisão que ele estava pensando há tanto tempo", apontou o jornal, afirmando que o documento estaria guardado num cofre, nos aposentos do papa, e será entregue a seu sucessor, para que uma ampla limpeza comece a ser realizada.

Os três cardeais que conduziram as investigações teriam chegado à constatação da existência de facções diferentes dentro da Cúria, uma das quais definidas por sua "orientação sexual".

Esse grupo de bispos e religiosos homossexuais teria criado uma espécie de rede de prostituição de seminaristas e até de imigrantes para servir ao alto escalão. Os encontros entre esses bispos ocorreriam em diversos locais de Roma, em saunas e até mesmo na casa de um arcebispo italiano. Eles também teriam sido vítimas de chantagem.

O jornal italiano faz referência ao escândalo envolvendo Angelo Balducci, que em 2010 era assessor do papa. Em escutas telefônicas, a polícia - que o investigava por corrupção - identificou como ele usava serviços do nigeriano Chinedu Thomas Ehiem, cantor da Capela Julia, na Basílica de São Pedro, para contratar jovens para serviços sexuais.

Os encontros ocorreriam em locais relacionados também com Marco Simeon, protegido do secretário de Estado, Tarcisio Bertone. O nome de Simeon já havia aparecido em investigações sobre corrupção dentro da Igreja. Simeon também foi citado no caso da demissão de Ettore Gotti Tedeschi - o executivo-chefe do Banco do Vaticano que tentou limpar a instituição, sem sucesso.

Segundo o jornal, o documento vai "condicionar o conclave" a escolher um papa capaz de lidar com esse escândalo.